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Sinopse
"Poemas de Almada Negreiros, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, ditos por Germana Tânger" é já o 3.º título da colecção Sons (audiolivros). Desta vez, convidámos Germana Tânger a dizer poemas de três dos poetas que mais admira e divulgou ao longo da vida.
Germana Tânger foi professora de dicção no Conservatório durante 25 anos. Apresentou o programa semanal "Ronda Poética", na RTP. Em 1948 iniciou um longo percurso durante o qual divulgou por todo o mundo grande parte dos poetas portugueses, através de muitos recitais que realizou. Em Novembro de 1999 fez a sua despedida artística no Teatro da Trindade, 40 anos após ter dito pela primeira vez a "Ode Marítima", de Álvaro de Campos. Poemas de Almada Negreiros, Mário Sá-Carneiro, Fernando Pessoa ditos por Germana Tânger de Vários
Excerto
Uns poetas falam, outros não! , só escrevem e para eles, por silêncio necessário. Os que falam cantam também, às vezes, como os mais antigos faziam. A voz que têm ou tenham é a pró-pria - mas nem sempre apropriada, porque a palavra escrita soa-lhes diferente, e eles têm dificuldade, ou impossibilidade, de a igualarem depois, em sonoro.
Era má, de falsete, a voz do Sá-Carneiro, sabe-se e andou escrito e roçado na Brasileira - mas tanto precisava dela, por desafio e desgraça! Pessoa murmurava, delicadamente, sobre chávenas de café e era só com ele próprio as mil folhinhas que escrevinhava para a arca que depois lhe abrissem - pandora de nós todos, seus filhos de geração…
Caeiro era de pé que escrevia, a eito, soube-se; Álvaro ouvia, ao mesmo tempo, as máquinas da sua engenharia ou o mar violento batendo, mas a imitação era-lhe toda interior, pulmonar, s! e diria. Soares via-se e desejava-se sem desejo de palavras de comunicação; Ricardo, como seria? E o Almada? Todos ainda o ouvimos, ou vimos, abrindo grandes olhos de menino e grandes braços de oráculo, para martelar verdades decimais. Como teria ele lido "A Invenção do Dia Claro", no ano de todos os embustes? Disse-se que de smoking e barrete de campino - pátria para que o quisemos nós?… Mas era o silêncio astral que lhe convinha ao fim do "Nome de Guerra", ultrapassando o ódio de certo dia de Maio. Esse, gritou-o ele, decerto, à mesa do seu quarto, quando escrevia. Como berrou uma tarde, à ventania, à porta do Martinho do Terreiro do Paço, Pessoa atrás, escondido debaixo da mesa. Ao fim - só desenhava e isso bastava, sem precisar de texto, enigma, cálculo ou opinião. E esse fim era o "Começar". Assim comecemos nós, algum dia...
Mas é preciso emprestar voz aos poetas para os ouvirmos do lado de fora que tenham.
Ainda se usará recitar? Na escola primária ou depois, já não digo na Universidade, era bom fazê-lo, para memória e inteligência dos textos. Há meio século? Ou antes, havia "diseuses" (e o signatário jura que ouviu, menino, a Berta Singerman, e depois a Manuela Porto), e "diseurs" - e também o Villaret, bate-batendo ritmos. A Maria Germana é claro que sim, por amizade antiga da Faculdade tumular do Convento de Jesus. E agora, em disco - tão presente, em pessoa e enleio que nos prende de verso em verso adivinhando e escondendo o seguinte que depois é sempre revelação, como deve ser - e para o poeta foi. Ela sabe como ela sabe, do Mário, do Fernando e dos outros, e do Zé Almada - ao ter-lhe encenado, tão bem e tão certa, por dentr! o, o seu "Nome de Guerra". Foi a última vez que a aplaudi ao vivo, e o lembro agora, por distância mais de espaço que de tempo.
José-Augusto França (Apresentação)
Uns poetas falam, outros não! , só escrevem e para eles, por silêncio necessário. Os que falam cantam também, às vezes, como os mais antigos faziam. A voz que têm ou tenham é a pró-pria - mas nem sempre apropriada, porque a palavra escrita soa-lhes diferente, e eles têm dificuldade, ou impossibilidade, de a igualarem depois, em sonoro.
Era má, de falsete, a voz do Sá-Carneiro, sabe-se e andou escrito e roçado na Brasileira - mas tanto precisava dela, por desafio e desgraça! Pessoa murmurava, delicadamente, sobre chávenas de café e era só com ele próprio as mil folhinhas que escrevinhava para a arca que depois lhe abrissem - pandora de nós todos, seus filhos de geração…
Caeiro era de pé que escrevia, a eito, soube-se; Álvaro ouvia, ao mesmo tempo, as máquinas da sua engenharia ou o mar violento batendo, mas a imitação era-lhe toda interior, pulmonar, s! e diria. Soares via-se e desejava-se sem desejo de palavras de comunicação; Ricardo, como seria? E o Almada? Todos ainda o ouvimos, ou vimos, abrindo grandes olhos de menino e grandes braços de oráculo, para martelar verdades decimais. Como teria ele lido "A Invenção do Dia Claro", no ano de todos os embustes? Disse-se que de smoking e barrete de campino - pátria para que o quisemos nós?… Mas era o silêncio astral que lhe convinha ao fim do "Nome de Guerra", ultrapassando o ódio de certo dia de Maio. Esse, gritou-o ele, decerto, à mesa do seu quarto, quando escrevia. Como berrou uma tarde, à ventania, à porta do Martinho do Terreiro do Paço, Pessoa atrás, escondido debaixo da mesa. Ao fim - só desenhava e isso bastava, sem precisar de texto, enigma, cálculo ou opinião. E esse fim era o "Começar". Assim comecemos nós, algum dia...
Mas é preciso emprestar voz aos poetas para os ouvirmos do lado de fora que tenham.
Ainda se usará recitar? Na escola primária ou depois, já não digo na Universidade, era bom fazê-lo, para memória e inteligência dos textos. Há meio século? Ou antes, havia "diseuses" (e o signatário jura que ouviu, menino, a Berta Singerman, e depois a Manuela Porto), e "diseurs" - e também o Villaret, bate-batendo ritmos. A Maria Germana é claro que sim, por amizade antiga da Faculdade tumular do Convento de Jesus. E agora, em disco - tão presente, em pessoa e enleio que nos prende de verso em verso adivinhando e escondendo o seguinte que depois é sempre revelação, como deve ser - e para o poeta foi. Ela sabe como ela sabe, do Mário, do Fernando e dos outros, e do Zé Almada - ao ter-lhe encenado, tão bem e tão certa, por dentr! o, o seu "Nome de Guerra". Foi a última vez que a aplaudi ao vivo, e o lembro agora, por distância mais de espaço que de tempo.
José-Augusto França (Apresentação)
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